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Moça tomando café. Cassiano Ricardo.
Moça tomando café. Cassiano Ricardo.
Num salão de Paris
A linda moça de olhar gris
Toma café
Moça feliz !
Mas a moça não sabe, por quem é,
Que há um mar azul, antes da sua xícara de café,
E que há um navio longo , antes do mar azul…
E que, antes do navio longo, há uma terra do sul ;
E, antes da terra, um porto em contínuo vaívem,
E, antes do porto, há um trem madrugador ;
Sobe-desce da serra, a gritar, sem parar,
Nas carretilhas que zunem de dor…
E, antes da serra, está o relógio da estação…
Tudo ofegante, como um coração
Que está sempre chegando, e palpitando assim…
E , antes dessa estação, se estende o cafezal.
E, antes do cafezal, está o homem por fim,
Que derrubou sozinho a floresta brutal,
O homem sujo de terra, o lavrador,
Que dorme rico, a plantação branca de flor,
E acorda pobre no outro dia,
Com a geada negra que queimou o cafezal.
A riqueza é a noiva
Que promete, e que falta, sem querer…
Chega a vestir-se assim, enfeitada de flor,
Na noite branca, que é o seu véu nupcial ;
Mas vem o sol, queima-lhe o véu
E a conduz para o céu,
Arrancando-a das mãos do lavrador.
Quedê o sertão daqui ?
Lavrador derrubou.
Quedê o lavrador ?
Está plantando café .
Quedê o café ?
Moça bebeu.
Mas a moça onde está ?
Está em Paris.
Moça feliz.
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